A cidade de Belém do Pará recebeu em 2015 o título internacional de "Cidade Criativa da Gastronomia", concedido pela Unesco. A capital paraense torna-se referência mundial em gastronomia, e passa a integrar uma rede de cidades que buscam desenvolvimento de maneira sustentável e de modo socialmente justo.
Atualmente, a rede de Cidades Criativas é composta por 116 cidades, em todo o mundo, e em sete segmentos da indústria criativa: literatura, cinema, música, artesanato e arte popular, design, artes e gastronomia. Além de Belém, outras duas cidades brasileiras entraram na lista: Santos, na categoria Filmes, e Salvador, por sua música.
O trabalho de candidatura de Belém é fruto de uma ação da Prefeitura de Belém em parceria com o Governo do Estado e entidades representativas do setor, tais como Instituto Paulo Martins, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Instituto Atá, que se uniram no propósito de oficializar não só a culinária, mas toda a cultura gastronômica de Belém como referência global. A candidatura da capital paraense teve o apoio do Itamaraty, Confederação Nacional do Turismo e Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel).
“Para nós que trabalhamos para o desenvolvimento da gastronomia paraense, é a coroação de um trabalho que vem sendo realizado há mais de 30 anos”, comemora Joanna Martins, diretora executiva do Instituto Paulo Martins.
TURISMO GASTRONÔMICO:
Desde sua fundação, Belém tem uma conexão especial com os produtos da terra –açaí, castanha, mandioca. Não à toa, hoje a cozinha é um de seus pilares, a ponto de a capital paraense ter sido incluída na lista especial de cidades da Unesco. Esse movimento começou a se consolidar há cerca de 40 anos, em grande parte graças a Paulo Martins. Morto em 2010, o arquiteto cresceu entre panelas e desenvolveu um gosto que surpreendia o paladar dos amigos. Na década de 1970 fundou o restaurante Lá em Casa, que até hoje serve pratos locais e adaptações de receitas que ele criou.
"O arroz de jambu foi o primeiro prato que usou essa erva fora do tacacá ou do pato", diz Joanna Martins, filha de Paulo e diretora do Instituto Paulo Martins. Hoje, o Lá em Casa divide reconhecimento com o Remanso do Bosque e o Remanso do Peixe, de Thiago Castanho.
Apesar dos avanços vindos com o pioneirismo de Martins, Castanho conta que muitos cliente que se surpreendem com ingredientes que provam nas casas. Conta ele, que trabalha em parceria com pequenos produtores locais. Nos pratos (e na mercearia do Remanso do Bosque) são encontrados ingredientes como rótulos da cervejaria artesanal Amazon Beer, os chocolates feitos por Dona Nena na ilha do Combu e a cachaça de jambu de Leodoro Porto.
A valorização da cozinha tem levado a Belém investimentos como faculdades de gastronomia e o Centro Global de Gastronomia e Biodiversidade, a ser inaugurado em agosto –parceria entre poder público, Instituto Paulo Martins e Sebrae que incentivará o turismo gastronômico.
Com o Centro, eventos serão adicionados à agenda local, que já inclui, por exemplo, o Festival Ver-o-Peso (de 21 a 29 de maio). Um deles é o Diálogos Gastronômicos, com chefs de todos os continentes, de 21 a 29 de agosto. "A tapioca brasileira, o crepe francês e o taco mexicano são similares", diz Joanna, uma das organizadoras. "A ideia é trazer cozinheiros que trabalham com pratos e ingredientes distintos, mas semelhantes aos nossos, e procurar formas de aprimorá-los."