Quem passeia pelos rios ao redor de Belém, na região da ilha de Combu, vai se deparar com cores que saltam ao verde nativo da paisagem. Trata-se da intervenção "Street River", do artista Sebá Tapajós, que grafitou vários barcos e casas da região. As instalações trouxeram cor à vida dos ribeirinhos e fama ao artista (convite para ilustrar a capa de um album de Lulu Santos). Em entrevista à revista Up Magazine, por Elvis Rocha, Sebá fala mais sobre o projeto:
Como nasceu a ideia do Street River?
Eu já tinha a ideia antes do Reduto Walls (projeto de revitalização do bairro do Reduto por meio do grafite (Liderado por Sebá).J á vinha contemplando essa ideia, estudando os ribeirinhos. Fiz uma exposição no IAP, Raízes e Fragmentos, em que já vinha apostando nisso, estudando as formas dos rios e tal. Passei o final de ano em Alter do Chão, coisa que sempre fiz desde criança: passear de barco, contemplar a natureza, e isso foi me dando o start de aperfeiçoar o que eu já vinha fazendo.
E como escolheste o Combu?
As coisas foram se conectando. O Thiago Castanho (chef paraense), que fez o finger food oferecido no coquetel da minha exposição anterior, trabalha com o chocolate produzido na ilha. Conversei com ele, que me deu apoio, e fui lá visitar. A ideia era pintar uma casa. O Combu é o lugar mais raiz de Belém pra mim. É onde há mais de dez anos eu vou quando quero comer peixe frito e dar uma relaxada, tomar um banho de rio. É bonito, de fácil acesso. A primeira vez que entrei lá foi de madrugada, porque minha ideia original era usar a luz da noite. Aí quando amanheceu foi aquilo: “Meu Deus!”. Diante dos meus olhos estavam todas aquelas telas (risos).
E como foi o primeiro contato com a comunidade, como apresentaste o projeto pra eles? Na primeira visita não rolou nada. É um namoro, né?
Eles não sabiam o que era, não têm acesso a galerias etc. Já na segunda ida a gente conseguiu liberação de uma casa. Sempre deixei claro pra eles que o que eu queria era pintar e uma foto, mais nada. Eu tô dando um presente pra eles e eles estão me dando o presente de permitir a pintura das casas. Fomos conversando com outros, e na quarta visita, que foi pra mapear a ilha e fazer imagens, conseguimos a segunda casa. Aí veio o dono do bar, o dono do barco (risos), e a coisa foi tomando uma proporção maior.
Li que a ideia inicial prevê a pintura de 17 casas. O que tá definido pro projeto?
São 17 casas autorizadas. Já fiz cinco. Quero chegar a dez, mas a galeria já é uma realidade. O Street River é a primeira galeria de arte de rua fluvial do mundo. O que eu quero agora é concluir as dez casas, chamar pelo menos três, quatro artistas convidados pra fazer parcerias. Mas não é minha intenção que fique tudo grafitado, não, senão a ilha perde a originalidade. Acho que esse é o mínimo de sensibilidade que tenho que ter. Existem mais de 200 famílias, são mais de 1.700 hectares no Combu, então dá pra ter casas grafitadas e manter as originais. Quero finalizar esse trabalho até o aniversário de 400 anos de Belém.
Fonte: Das Artes.