Nem parece que a agitada capital paraense fica logo ali, a dois quarteirões da maior floresta tropical do planeta. Mas basta cruzar os portões de acesso, na avenida Almirante Barroso, para um mundo amazônico se abrir diante dos olhos.
Localizado no bairro Curió-Utinga, no setor leste da cidade, o Parque Estadual do Utinga é a Floresta Amazônica no quintal de casa e de fácil acesso, onde é possível realizar atividades que a gente não costuma imaginar na hora de visitar a Amazônia.
Afinal de contas não é todo dia que se tem a oportunidade de pedalar ou fazer rapel dentro da Amazônia.
“O parque é uma vitrine da Amazônia. Não tem forma mais fácil de se conhecer a floresta do que esse parque em plena cidade”, descreve Júlio Meyer, gerente da Região Administrativa de Belém do Ideflor-bio, órgão responsável pela gestão desse trecho de floresta.
Uma das atividades que dá para fazer é a navegação em voadeiras no Água Preta, um dos cenográficos açudes locais que, assim como o Bolônia, são alimentados pelas águas do rio Guamá e funcionam como uma espécie de caixa d’água natural de Belém.
O passeio é curto e restrito ao número de lugares disponíveis na embarcação, mas dá para ver tudo o que se espera de um bioma como o amazônico: florestas alagadas, plantas aquáticas, pequenas trilhas floresta adentro e, com sorte, avistar vida selvagem.
De volta à terra firme, a Trilha da Mariana é a parada seguinte.
Nessa caminhada circular de 1.700 metros, o visitante aventureiro aprende técnicas de sobrevivência na selva e particularidades da flora, além de se banhar em uma das nascentes que cortam o parque.
Mas o que todo mundo quer ver mesmo é aquela bicharada amazônica que só costuma dar as caras em documentários de vida selvagem.
O Batalhão da Polícia Ambiental, instalado no interior do Parque Estadual do Utinga, abriga animais de apreensão como a curiosa coruja murucututu, jiboia e tucanos. O local funciona como um abrigo onde são realizados cuidados básicos e manejo nutricional dos bichos, antes de serem soltos de volta à natureza ou enviados para o grupo de reabilitação Harpia.
Por estar em área mais urbanizada, é mais improvável encontrar a bicharada amazônica no interior do parque, por isso essa é uma alternativa para quem quer ver animais selvagens.
Mas a Floresta Amazônica não decepciona e por ali, ainda em terras do Utinga, dá para fazer um pedal pela nova via com paralelepípedos, com três quilômetros de extensão, e um rapel inocente de 12 metros de altura, que termina no interior de um dos canais d’água do parque.
“Aqui, não adianta preciosismo. Temos que ter interação com a natureza. Não queremos ser uma área intocável”, avisa Júlio Meyer.
Requinte mesmo é poder caminhar, pedalar e fazer rapel na Floresta Amazônica, em pleno centro nervoso de Belém.
SOBRE O PARQUE UTINGA
Essa Unidade de Conservação da Região Metropolitana de Belém preserva uma área verde de 1.353 hectares, uma região ameaçada pela ocupação urbana desordenada e com repercussões no saneamento, saúde e qualidade de vida, segundo o Ideflor-bio (Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará).
O parque é uma das 25 Unidades de Conservação da Natureza do Estado do Pará, criado em 1993, e faz parte de um corredor ecológico que inclui também a Ilha do Combu e o Refúgio da Vida Silvestre, e serve de refúgio para a vida selvagem local, como 88 espécies de aves, capivaras, pacas, tatus, preguiças, macacos-de-cheiro e até onças (dizem).
Para sorte da floresta e de todos que visitam a região, o PEUt, sigla para esse parque, é uma das poucas áreas da Região Metropolitana de Belém ainda preservadas.
O parque está fechado desde abril de 2015 e, mesmo sem nenhum atrativo, recebia 140 mil visitantes anuais. As obras já estão na fase final e a previsão da entrega do parque reformulado é para o final de 2016.