Na Amazônia, onde ir? Belém ou Manaus
Assim como em típicas lendas amazônicas, com histórias fantásticas contadas à beira do rio, a Amazônia sempre surpreende os viajantes que desembarcam nas terras do norte brasileiro.
Tem igarapés que confundem a mente com copas de árvores que se fundem no reflexo das águas; cachoeiras que caem sobre árvores centenárias; macacos que surgem do meio da floresta e invadem barco; botos que aparecem quando chega um forasteiro; e tem até um cruzeiro literário que singra águas escuras rasgando uma das maiores florestas do planeta.
E pode voltar quantas vezes forem preciso, que nunca vai faltar atividade nova, em território amazônico. Devido a grande área, para ter uma ideia da dimensão, a Amazônia ocupa não só o estado do Amazonas, mas também o Pará, Amapá, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso e trechos do Maranhão.
ATRAÇÕES: BELÉM OU MANAUS
Ambas capitais têm acesso fácil à floresta amazônica, embora Belém, no Pará, pareça ter atrações com melhor estrutura para receber visitantes. Mas quem chega a essas cidades com vontade de ir a floresta, inicialmente pode se decepcionar um pouco, devido trânsito complicado, ruas sujas e insegurança nas capitais.
Belém é, de longe, a versão melhor estruturada da Amazônia turística, onde os serviços funcionam e os preços não são abusivos. Em Manaus, as poucas atrações são um convite para ficar poucos dias na capital do Amazonas. A floresta amazônica fica do outro lado do rio Negro, a 10 km de distância.
Uma gastronomia que reúne regionalismo e cozinha internacional sem afetação; pequenos museus de acervo discreto e cenografia caprichada; rituais religiosos que conseguem unir todas as crenças; passeios fluviais sinceros que pouco se parecem às versões engana-turistas de outros destinos brasileiros, em que indígenas se fantasiam de índios para delírio da gringaiada; e uma floresta amazônica que fica bem ali na porta de casa.
Conclusão: Belém é a Amazônia melhor estruturada e que, muitas vezes, lembra grandes centros urbanos, quando o assunto são opções de turismo na região central. Já a caótica Manaus deve ser usada como ponto de partida para passeios floresta adentro.
CLÁSSICOS
Não tem como fugir. Quem visita a Amazônia pela primeira vez não pode deixa de conhecer os clássicos dessas cidades do Norte.
Centro econômico da região Norte, Manaus abriga construções erguidas durante o curto período do Ciclo da Borracha, como o Teatro Amazonas, cuja visita guiada é uma experiência obrigatória; o Palacete Provincial e o Palácio Rio Negro, construção em estilo eclético, erguida em 1903.
Entre as atrações naturais da cidade, a mais famosa é o Encontro das Águas, experiência que vale mais pelo fenômeno do que pela beleza do local. No encontro dos rios Negro e Solimões que suas águas escuras e barrentas, respectivamente, correm paralelas sem se misturar, ao longo de mais de 6 km. Isso se deve às diferenças de temperatura e densidade daquelas águas.
A visita a bordo de barcos costuma ser combinada com navegações em igarapés e os passeios podem ser adquiridos em agências de turismo de Manaus.
Em Belém, não deixe de visitar o centro histórico, o setor mais antigo da cidade. Próximo tem o Theatro da Paz, inaugurado em 1878, cujo estilo neoclássico foi inspirado no Scalla, em Milão.
Outros clássicos são a Estação das Docas, um complexo de bares e restaurantes que funciona em antigos armazéns de ferro inglês, em uma área de 32 mil m², em pleno porto de Belém; e o Ver-o-Peso, mercado em funcionamento desde 1625. Tombado pelo IPHAN, o local possui boxes e barracas que comercializam carnes, peixes frescos, além de ervas e frutas amazônicas em meio a estruturas de ferro,
PRAIAS DE RIO:
Neste quesito, Manaus conta com melhor estrutura, com faixas de areia próximo ao centro da cidade. Endereço preferido dos manauaras, em dias de maré baixa, as praias de rio são a melhor opção para quem quer fugir do calor da região.
A mais popular é a praia de Ponta Negra, complexo a 13 km do centro, equipado com quadras, bares e restaurantes. Outra opção é a Praia do Tupé, um banco de areia a 34 km de Manaus, em pleno rio Negro. Com acesso apenas por barco, essa é uma alternativa à lotada Ponta Negra.
Quem procura algo mais rústico, em Belém, conta com a Ilha de Cotijuba, a 45 minutos de barco. O destino, banhado pela Baía do Marajó, abriga faixas de areia ainda pouco exploradas, ao longo de seus 15 km de litoral.
AMAZÔNIA MINIATURA
Não precisa ser aventureiro para explorar e ver espécies típicas amazônicas. Manaus abriga o Parque Municipal do Mindu, uma área central de 40 hectares que serve como uma espécie de vitrine da Amazônia, considerado um dos últimos refúgios do macaco sauim-de-coleira, endêmico da cidade. O local conta também com trilhas sinalizadas, passarelas sobre as copas das árvores, playground e biblioteca.
Já Belém abriga espaços com reproduções naturais da Amazônia como o Mangal das Garças, uma área de 40 mil m² que abriga borboletário e 55 espécies de aves como garças, marrecos e até flamingos africanos e chilenos.
Outra opção central de Belém para quem quer colocar os pés na floresta é o Parque Estadual do Utinga, uma área verde de 1340 hectares que, até o final desse ano, deve voltar a ser aberta com opções de atividades como trilhas, ciclovias, passeios de barco e até rapel.
RIBEIRINHOS
Em Manaus não faltam opções de passeios que visitam comunidades ribeirinhas da região. Mas não é difícil encontrar viajantes decepcionados que voltam de experiências em vilarejos indígenas, onde índios se fantasiam de índios e tornam a visita superficial, cuja única intenção parece ser arrancar dinheiro de turistas.
Uma experiência que vale a pena é a parada em Acajatuba, uma comunidade ribeirinha que fica a 60 km de Manaus, onde Dona Neide prepara tapiocas para os visitantes, em uma frigideira sobre um fogão a lenha.
Outro clássico é a observação de botos, em Novo Airão, município a 180 km de Manaus. As atividades acontecem no quintal de uma das casas flutuantes da região, por onde passam botos e peixes-boi. A partir de uma plataforma sobre o rio, os visitantes observam os bichos sendo alimentados por funcionários do local.
Em Belém fica a Ilha do Combu, uma das 39 ilhas catalogadas da cidade, conhecida pela produção de cacau e pelos passeios por igarapés, em frente à cidade apenas 15 minutos de barco.
IGARAPÉS:
Esses canais estreitos de água e com pouca profundidade servem de cenário para uma das experiências mais fascinantes em todo o território amazônico.
E pode ter certeza que, se você tiver tempo para uma única experiência por ali, pode investir sem medo nos passeios por igarapés próximos a Belém, Santarém e Manaus (só para citar alguns dos mais famosos).
O melhor de Belém fica em frente à cidade, a 15 minutos de barco. Combu é uma das 39 ilhas catalogadas da cidade Belém e é conhecida pela produção de cacau, matéria-prima na produção do chocolate artesanal que colocou o destino na rota dos chefs de cozinha brasileiros como Alex Atala e Thiago Castanho.
CIDADE DA CACHOEIRAS:
Localizado no Baixo Rio Negro, ao norte de Manaus, o município de Presidente Figueiredo tem mais de 100 quedas d’água catalogadas e é declarado a “Terra das Cachoeiras”.
Tudo isso em plena floresta entre cavernas e quedas de todos os tamanhos. Na época da cheia de rios, entre fevereiro e junho, dá até para fazer rafting, boia cross, caiaque, tirolesa e rapel. E para não errar na hora de escolher a sua queda d’água preferida, lembre-se que as opções por ali vão de endereços lotados que parecem clubes de finais de semana até cachoeiras mais isoladas com difícil acesso.
CIDADE DA GASTRONOMIA:
Belém, a capital paraoára que tem a Amazônia bem no quintal de casa, carrega o título de Cidade da Gastronomia, concedido pela Unesco, em 2015. É na maior floresta tropical que Belém se inspira na hora de montar a mesa. Mas não basta apenas incluir pimenta, tucupi e maniva nas receitas.
A gastronomia local se exibe com originalidade e criatividade raras em outros destinos amazônicos, com opções que vão desde os pratos mais tradicionais, como o peixe frito com açaí do Mercado Ver-o-Peso, até versões inusitadas, como ravioli de cupuaçu e maniçoba, nhoque de pupunha, risoto de jambu e tomilho, e até sorvetes de bacuri e taperebá.
Criado pela Livraria da Vila e pela agência Auroraeco, o projeto ‘Navegar é Preciso’ reúne no Amazonas escritores e cantores em encontros literários diários, apresentações musicais e saídas para exploração turística da região. Nesse roteiro com duração de cinco dias, que acontece uma vez por ano, os viajantes literários navegam sem pressa sobre as águas escuras do rio Negro, cruzam o arquipélago das Anavilhanas, realizam trilhas floresta adentro e fazem desembarques estratégicos em praias de rio.
Montar uma lista com os melhores finais de tarde do Brasil é tarefa difícil, polêmica e injusta, mas pela minha experiência em viagens nacionais, a região amazônica ganha, de longe, como o melhor endereço para ver o sol se deitar no horizonte. Seja da Estação das Docas, em Belém, ou embarcado, rumo a qualquer destino amazônico, ver o por do sol por ali é como presenciar alguém lançando baldes de tinta sobre o céu, em tons que vão do amarelo ao magenta.
QUANDO IR:
O inverno amazônico vai de janeiro a junho, quando as temperaturas variam próximo de 30º, e a quantidade de chuvas é maior, facilitando a navegação de pequenas embarcações pelos corredores alagados da floresta.
As temperaturas sobem para a casa dos 35°C, com sensação térmica de 40°C, entre julho e dezembro. É nessa época que chegam os amantes da pesca esportiva de piranhas, por conta do volume mais baixo das águas.
Porém não adianta se animar com as clássicas promoções de passagens aéreas para Manaus, em dezembro, por exemplo, se a região da Amazônia fica sob chuvas, nessa época do ano.
COMO CHEGAR:
São poucos e caros os voos diretos que partem de São Paulo para capitais como Belém e Manaus. Por isso, é comum viajar para o Norte em rotas que incluam conexões em cidades intermediárias como Cofins e Brasília.
As cidades são atendidas por companhias aéreas como Gol, Latam e Azul.
Por: Catraca Livre